terça-feira, 3 de março de 2009

Berlusconi e o aumento do Estado - "ronda de cidadãos"

Há cerca de 10 dias, o primeiro ministro italiano, Silvio Berlusconi, estabaleceu através de decretro a "ronda de cidadãos". Consiste em patrulhas civis onde ex-militares e policiais aposentados farão rondas pelas cidades, sem armas. O controle dos bandos ficará a cargo de cada prefeito. Tal medida foi tomada de maneira unilateral - sem passar por votação do Congresso. O decreto de emergência aumenta as sentenças por estupro; estabelece prisão perpétua para ataques sexuais que resultarem em morte; acelera os julgamentos relacionados a esses delitos; retira a possibilidade de prisão domiciliar e liberdade condicional para agressores; e oferece ajuda legal gratuita às vítimas.

Ele já entrou em vigor e será submetido às duas Câmaras do Parlamento. Deve passar com facilidade, dada a maioria de Berlusconi no Legislativo. E por que a emegência das medidas? A resposta de Berlusconi, como de qualquer outro governante que busque inflar o poder do Estado (seu poder) e quase totaliza-lo, é: aumentar a segurança. É claro que o decreto teve total apoio da Lega Norte (partido xenófobo e protecionista).

E quem seriam os terroristas que fizeram com que o Estado italiano passasse a vigiar mais de perto seus cidadãos? A resposta, como em qualquer governo fascistizante, é óbvia: os estrangeiros ilegais. Mas então o senhor Berlusconi está nos dizendo que a imensa maioria dos estupros foram cometidos por não italianos. Sim, os últimos casos de estupros foram ligados a grupos estrangeiros, veja bem, ligados, mas não confirmados. Ora pois, nesse Estado policial não seria o decreto uma nova medida para controlar os estrangeiros? Vide "Era Bush" e o aumento do poder do Estado em detrimento das liberdades individuais, vividos por causa da "guerra ao terror". Ou até mesmo no ínicio da proibição da maconha, que nos EUA serviu de argumento para perseguir mexicanos. Ou Hitler com os judeus. Ou Sarkozy e seus aviões lotados de imigrantes enxotados da França. Todas medidas para combater minorias em nome da segurança pública - papo furado para cumprir outros interesses.

Isso fica claro ao cruzarmos esse decreto com outras medidas tomadas pelo governo italiano contra imigrantes. Entre elas: um projeto de lei que permite aos médicos denunciar estrangeiros em situação irregular e outro que prevê pena de até 4 anos para os ilegais que não obedecerem à ordem de expulsão. Agora, ser clandestino é um crime. Silvio Berlusconi já se referiu aos imigrantes ilegais como "exército do mal" e desde seu primeiro discurso põe lenha na xenofobia européia.

Nada melhor do que, em meio a crise, espalhar medo e insegurança em seu território. Nada melhor para Berlusconi, é claro. Cidadãos com medo fazem coisas terríveis - elegem Hitler, Mussolini, Bush e Sarkozy. Silvio já cumpre seu terceiro mandato como primeiro-ministro, sempre buscando aumentar seus poderes e fabricando inimigos - vá perguntar a um romeno como está a vida na Itália. Em 2008 foi realizado um censo para fichar os chamados "romas" (imigrantes romenos) e expulsar os ilegais. Pois bem, a Itália é membro da União Européia, portanto tais imigrantes tem o direito assegurado de residir na "velha bota". Berlusconi não liga pra isso e a UE também parece não dar muitos ouvidos aos deputados romenos que acusam o governo italiano de xenofobia.

Essa guinada à direita mostra a insegurança do cidadão europeu que busca apoio no Estado, que por sua vez semeia mais medo. Para eles, é o estrangeiro que vai te tirar de seu emprego, não um governo incompetente ou especuladores financeiros que estouram bolhas por aí. Fica mais fácil dar uma cara ao "inimigo". Vira um ciclo vicioso, um teatro absurdo. Está para surgir um país que não tenha sido construído somente por nativos, pois todos somos descendentes de imigrantes. Em todas as árvores genealógicas existe alguém que mudou de território e buscou uma nova vida. Até hoje, o movimento de seres humanos no mundo é o que o faz girar.

Será que a insegurança econômica irá nos conduzir a um novo fascismo?
Olho neles!

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