sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Mais uma vítima de xenofobia na Europa

Não é de hoje e nem só no Velho Continente que a xenofobia é praticada. Em especial, em meio à crise financeira os países tendem a se fechar, proteger seu "patrimônio". Assim, muitas vezes esse medo de perder tudo e o anseio por mais segurança acabam impulsionando manifestações xenófobas. Vale lembrar que o desemprego do "colarinho branco" já colaborou com a ascensão do fascismo nesse mesmo continente.

Vítima de preconceito na Itália, hoje de Berlusconi e ontem de Mussolini, o jogador brasileiro Amauri (centroavante da Juventus de Turim) declarou em entrevista à revista semanal Gioia:

"Também aconteceu comigo. Faz algum tempo, em uma loja me acusaram de ter tentado roubar uma baguete de pães. Eu estava apoiando [a baguete] sobre uma plataforma perto da saída, a porta automática se abriu e a dona queria chamar a polícia. Eu não havia feito nada, simplesmente era estrangeiro e não falava um italiano perfeito"

Para quem tem memória e um pouco de bom senso é no mínimo absurdo qualquer ato de xenofobia. A Itália, por exemplo, foi unificada em 1871. Até então não existia o idioma italiano e muito menos um cidadão italiano. Berlusconi, a exemplo de Mussolini, retoma um "mito fundador" italiano, no qual a Itália é herdeira direta dos etruscos - povo fundador de Roma. Isso é no mínimo estúpido se colocarmos a cabeça pra trabalhar. Vamos lá, quantos "não etruscos" passaram pela Roma Antiga durante toda a sua existência? Quantos se reproduziram com "não etruscos" ou "não romanos"? Quantos povos "bárbaros" invadiram Roma? O que é ser "italiano"?

Ao buscar tais respostas fica claro o absurdo da xenofobia. Esse é só o exemplo italiano. Ainda retomemos a unificação tardia do país. Quais interesses fizeram com que em 1871 a Itália fosse unificada? A resposta é simples, pois reflete o ocorrido na maioria dos países: interesses comerciais e políticos. No caso italiano, Piemonte - reino industrializado e o mais rico - patrocinou a unificação "por cima" (aliança entre monarquistas e burgueses industriais), a velha ordem de mãos dadas com a nova (como ocorreu por aqui), onde Cavour (primeiro ministro de Piemonte e representate da burguesia industrial) fez alianças com Estados vizinhos, com o rei francês Napoleão III e acabou selando a unificação ao colocar o rei Vitor Manuel II no trono do novo país. Troca de "favores" deslavada.

Assim a unificação tomou seu corpo, ainda sim a amada Roma estava fora do território italiano. Com o patrocínio da burguesia local e de Estados vizinhos, que viam com maus olhos o agitamento político (anti-monarquista) no sul da Itália, diversas revoltas foram combatidas e em 1871 a Itália já contava com a cidade de Roma e Veneza. Mas foi só em 1929, partido fascista já no poder, que o Vaticano "aceitou" a nova Itália.

Imaginem, um dia você é de um lugar, busca sua identidade nas pessoas com que convive e no mundo a sua volta. No outro, você é "italiano" herdeiro da tradição etrusca. Uma verdadeira piada, que logicamente veio acompanhada das mais diversas obras intelectuais que comprovassem a tal herança - intelectuais precisam ser patrocinados, idéias não enchem a barriga! E os patrocinadores da unificação não entraram para perder. Outro ingrediente que é recorrente nas unificações dos chamados Estados Modernos é a guerra - vide unificação italiana e a guerra contra o Império Austríaco. Essa foi a farsa do Risorgimento italiano - link para texto sobre Gramsci (estudou a fundo o período) e o Risorgimento.

Ao analisar a história é possível ver a sua construção e seu movimento, deixando claro que nem sempre o que é dito e propagandeado condiz com a realidade. A Europa, como todos os outros continentes, também é uma "mistureba danada". Pensemos até em nossas próprias famílias, quantos de nossos ascendentes foram imigrantes? Inúmeros. O nacionalismo acaba se tornando um conceito burro, pois foi fruto de uma construção minuciosa que ligou fatos históricos para buscar uma identidade nacional até então inexistente. Com isso, diminuir alguém por ser de outro país (também uma construção) é uma grande estupidez. No fim, acabamos todos "palestinos".

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