quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Manu Chao - Show de Sampa - 11/02/09



E Manu Chao está de volta! Após mais de 2 anos longe dos palcos brasileiros, o show de São Paulo, Espaço das Américas, marcou a primeira apresentação da nova turnê "La Radiolina + Radio Bemba" no Brasil, serão 7. O "franco-espanhol" (filho de espanhóis que fugiram da ditadura de Franco, refugiando-se na França) e sua trupe cosmopolita ainda passarão por Salvador (13), Aracaju (14), Brasília (16), Curitiba (17), Rio de Janeiro (19) e Balneário Camboriú (20). Como de costume nos últimos anos, Manu se apresentou com a sua Radio Bemba dos talentosos: David Bourguignon (bateria), Gambeat (baixo), Madjid (guitarra), Philippe "Garbancito" Teboul (percussão), Julio Lobos (teclados) e Angelo Mancini (trompete).

Manu e banda aprovaram. As mais de 2 horas e meia de show não me deixam mentir e tornam a tarefa de enumerar canção por canção praticamente impossível. Mejor asi! A ordem não importa, aliás, ordem é justamente o que não combina com o ocorrido na noite de ontem. Caos! Uma desordem harmoniosa. Para variar, elementos dançantes, pulantes, gritantes e socantes todos rebatendo o som dos instrumentos daqueles que tornaram a festa possível e inesquecível, um organismo independente. Letras carregadas de sentimentos, temas políticos e sociais foram cantadas em espanhol, português, inglês e francês combinadas com a mistura sonora que passa pela rumba, mambo, reggae, flamenco, bolero e cai num punk rock furioso. Diversos mundos em um só, diversos povos lembrados através da sonoridade da banda e diversos punhos ao ar em tom de protesto! Essa é a passagem até o punk rock, momento em que a fúria entra em cena e contagia os presentes. Quando começa a marcação forte, veloz e cadenciada é hora de lavar a alma e suar todas as tristezas em uma luta que não pode deixar a esperança morrer.

Além do punk rock bem executado, vale destacar a guitarra espanhola (mesmo paletada) tocada por Madjid - conquistou corações e muitas vezes deu o tom da festa. Como também o trompete limpo de Angelo Mancini, que combinado à percurssão de Garbancito (ex-Mano Negra) trouxe a latinidade e o toque metálico necessários para tornar um show do Manu Chao completo. Além disso, deve-se fazer justiça à incansável "cozinha" formada por Gambeat (baixo) e David Bourguignon (bateria), realmente incansáveis. Haja tendão para aguentar tanto tempo de show! O tecladista não ficou pra trás, Julio Lobos mostrou seu talento e resistência, tocou melodias, produziu efeitos, enfim, não daria pra imaginar o show sem a sua presença, pois o que seria de Manu Chao sem as sirenes, bombas, vozes e todos os outros efeitos que se somam aos instrumentos convencionais?

E foi uma festa!

Infinita Tristeza, pero eterna Esperanza!

O repertório passou por faixas do último álbum (La Radiolina-2007) como: Amalucada Vida, Politik Kills e A Cosa. E ainda não deixou faltar outros sucessos da carreira do "franco-espanhol-latino-americano-cidadão-do-mundo", até rolaram algumas versões do Mano Negra (antiga banda de Manu) para os mais nostálgicos - como Mala Vida e Casa Babylon. A banda abriu com El Hoyo, do último álbum. De início o público já se animou com esse músico que vem do "hoyo (buraco) de la gran ciudad" e sabe dar uma festa como poucos. Uma festa de alegria e melancolia, a Infinita Tristeza ao lado da eterna Esperanza! Tristeza pela situação mundial. Esperança por um bom futuro.

E foi assim, mesclando letras e melodias tristes com ritmos fortes e dançantes a apresentação nunca perdeu seu principal fio condutor, a alegria melancólica daqueles que vivem num mundo desconcertado e anseiam por mudanças sociais e políticas. Mundo onde um ser humano pode ser ilegal - Clandestino. Onde existe uma Tijuana arrasada, "playground" para turistas liberarem seus impulsos "baconianos" e depois voltarem pra casa, pro conforto do lar. Deixam a cidade em ruínas, o próprio Estado mexicano faz vista grossa e deixa o território à mercê do narcotráfico e da prostituição - uma terra de bandidos e balaços. Manu cantou tudo isso.

Bienvenida a Tijuana (Clandestino-1998) emocionou. Isqueiros ao ar e muitos entendem a mensagem, uma pena que tantos outros claramente não estavam entendendo muita coisa e só queriam encarnar nos mesmos turistas que vão a Tijuana. "Bienvenida mamacita/ I'm in ruta Babylon/Bienvenida la juana/Tequila, sexo, marihuana", Infinita Tristeza!

Cantando os desconcertos da América Latina, seus personagens e sentimentos (também pessoais) , Manu se expressa e se entrega por inteiro. Ele que com suas andanças já se tornou uma parte da rica região, verdadeiro catador de sonhos. Seja com o Peligro cantado acerca dos bairros da Guatemala e Nicaragua, ou com a dominante Mentira (ou seria "mentira dominante"?), não importa, todos os sons e palavras ecoam nos quatro cantos, tocam tanto latinos quanto palestinos e africanos, simplesmente abrigam todos os mundos do planeta. O neoliberalismo e sua competição voraz derrubou as fronteiras do mercado, mas ergueu fronteiras entre os homens e semeou insegurança. Manu enxerga e grita socorro em meio a solidão coletiva que vivemos na cidade cinza. Por isso, "Hey Bob Marley! Sing something good to me/ this world go crazy/ its an emergency" E Mr.Bobby fez todo mundo cantar, o hit é conhecido e até os mais perdidos tinham tudo na ponta da língua. Palavras que reúnem a tristeza, o desespero, mas não calam a voz da esperança. A festa ficou ainda mais bonita.

Baile de Calaveras!


Ali, logo de cara, quando todos se colocaram a dançar e pular teve ínicio um verdadeiro baile de calaveras, uma celebração de iguais e pela memória dos esquecidos. Não importa o que estavam vestindo, sua preferencia sexual, sua cor de pele. Do pó e para o pó, somos apenas humanos e sangramos todos. Essa era a consciência a ser atingida, ela estava lá, pairando no ar sobre as cabeças dos mais de 7 mil esqueletos que chacoalharam os ossos até quase caírem esgotados. Essa herança Manu traz do México e da maneira com que esse povo lida com a morte, da percepção de que ela é apenas uma parte da vida, a parte que nos traz a certeza de sermos iguais, apenas comida de vermes. E todos bailaram Lo Peor de la Rumba, a Rumba de Barcelona e La Despedida tudo na sequência, difícil não cair no ritmo.

Assim, contagiados e extasiados, os paulistanos, bolivianos, espanhóis, alemães, mexicanos e toda a "Torre de Babel" reunida ontem celebrou a vida e a morte, a tristeza e a alegria. Tudo reunido em um coração que não cansa de bater, e Manu batia o microfone no peito incontáveis vezes. Eram batimentos cardíacos daquele que é consciente do mundo em que vive, escreve, viaja, busca um ideal e luta, mas sempre em ritmo de festa e com o coração aberto. E ele agradeceu inúmeras vezes, não queria deixar o palco, sempre voltava para mais. No fim, todos deveríamos ter agradecido a ele e a banda pelo acontecido. Em tempos de crise nesse mundo tão insensato, esses músicos trazem um lampejo de esperança consigo. Então, que dancemos, pensemos e agradeçamos. Manu y Radio Bemba, Me Gustas Tu! Gracias!

2 comentários:

soñando disse...

opa, sou editor da revista Noize, revista de música gratuita de PoA que em março passa a circular também no resto do país. Queria publicar resenha de show do Manu Chao, como faço contato com vcs? Abraço.

Retransmissor disse...

opa! contato no email

vinagre_85@yahoo.com.br