sábado, 25 de outubro de 2008

Hiroshima: uma brilhante reportagem.

235 1 236 141 92 1
U + n → U → Ba + Kr + 3 n ∆E = -2x 1010 kJ/mol
92 92 56 36

Essas letras e números não dizem absolutamente nada para muitos, mas foram elas que deram origem a outros números importantes para a história da humanidade. Cem mil mortos e cem mil feridos na cidade de Hiroshima, resultado monstruoso da fórmula que abre o texto. A fissão atômica em conjunto com seu resultado não retrata a experiência vivida por aqueles na cidade, somente seus depoimentos podem ilustrar esse acontecimento. Foi exatamente isso que o repórter John Hersey fez em sua reportagem especial para a revista The New Yorker, colheu depoimentos de alguns sobreviventes para recontar a tragédia. Hiroshima ocupou uma edição inteira da revista, mais tarde se tornou essa grande obra do jornalismo literário.

Hersey foi à Hiroshima um ano após a experiência atômica, ouviu o depoimento de seis sobreviventes da Bomba A, os chamados hibakusha (nome dado aos sobreviventes do bombardeio), entre eles, dois médicos, um sacerdote, um pastor, uma jovem de vinte anos e uma viúva com três filhos. Esses relatos traduzem de forma mais humana todos os fatos subseqüentes ao lançamento da bomba, dessa união da firmeza dos números com o discurso dos sobreviventes nasceu uma das mais aclamadas obras do “new jornalism”. “Hiroshima” se completa anos depois desses depoimentos, quando o autor volta à cidade para ouvir de seus entrevistados como foram os últimos 40 anos.

Na primeira parte ocorre uma minuciosa descrição do que cada um dos seis faziam até as oito e quinze da manhã (horário da explosão). Quando tudo se tornou branco e o pesadelo começou na cidade de Hiroshima. A partir desse momento começa o retrato da luta contra um inimigo desconhecido, até então ninguém sabia o que estava acontecendo. Só se via morte por todos os lados e, entre os mortos, milhares de feridos clamavam por socorro. Os números mesmo frios são impressionantes, 25% das vítimas sucumbiu às queimaduras, outros 20% aos efeitos da radiação, 50% morreram devido a ferimentos diversos. Alvos de uma experiência nuclear os hibakusha não tinham a menor idéia do que estava acontecendo, muitos achavam que se tratava de um ataque incendiário, ninguém tinha noção de que fora lançada sobre eles uma bomba inédita até então. Cobaias de um experimento nuclear essas pessoas penaram durante os anos seguintes para reconstruir suas vidas a partir das cinzas de uma Grande Guerra. A radiação não deixou somente feridas visíveis, a vida dos hibakushas jamais seria a mesma.

O autor ao voltar encontrou uma cidade completamente diferente daquela que deixara em 1946, Hiroshima agora estava reerguida e moderna. Seus confessores também se encontravam em situação diferente. É ao redor dos acontecimentos dos 40 anos passados que a obra se completa. Hersey procurou focar como esses hibakusha passaram esse longo período. Narrando os acontecimentos mais importantes da vida deles o autor retrata todas as dificuldades enfrentadas, problemas de toda sorte, físicos, mentais, financeiros, sociais e familiares. O pano de fundo nessa segunda parte é o avanço das pesquisas atômicas em diversos países, bem como a evolução da questão atômica no Japão e Estados Unidos. Episódios na vida dos seis ilustram de maneira brilhante toda a repercussão do ocorrido e como esse fato jamais deve ser esquecido.

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