sábado, 1 de novembro de 2008

Gogol Bordello - Tim Festival São Paulo



Punhos cerrados, Fúria! Pulos ritmados, palmas, chutes ao ar! Alegria, Interação e Liberdade! Gogol Bordello!

Como não poderia ser diferente, na última sexta, dia 24, a trupe de imigrantes liderada pelo ucraniano Eugene Hutz entrou em sintonia com seu público e fez a arena montada no Ibirapuera tremer ao som do melhor do “gypsy punk”. É "punk cigano" mesmo, algo que combina elementos da música cigana do leste europeu com "punk rock", "dub", "reggae", "mambo", "rumba" ,"polca" e "tarantela" (último álbum). O espetáculo fica completo com a atmosfera circo/cabaré dos figurinos e atitudes do grupo. Tudo isso graças a miscelânea cultural que a banda reúne, uma verdadeira Torre de Babel, tem integrante da Ucrânia, Rússia (2), China, Etiópia, EUA, Israel e Equador. E como se não fosse suficiente, Eugene é "juntado" com uma brasileira e tem uma casa no Rio de Janeiro.

E a banda subiu ao palco, primeiramente, com seis integrantes. “Ultimate”, do álbum “Super Taranta” (2007), abriu o set, fãs adoraram, alguns perdidos, que não conheciam a banda, de início estranharam. O violão de Hutz e o acordeom de Yuri Lemeshev começaram dando o tom, então, os primeiros versos foram cantados e a questão político-existencial colocada. Para abrir o show e preparar o ambiente:

“If we are here not to do
What you and I wanna do
And go forever crazy with it
Why the hell are we even here? RÁÁÁ!”

“Se nós não estamos aqui para fazer
o que eu e você queremos
e ficar eternamente muito loucos com isso
Por que catso nós estamos aqui?? RÁÁÁ!”

Logo após o grito, todos os outros instrumentos somaram-se ao violão e acordeom, a casa foi abaixo! Pulos, gritos, energia! Interação entre palmas, bater dos pés, vozes e instrumentos. Tudo uma coisa só, um show orgânico, festa! Nessa altura, até aqueles que estavam estranhando aquele bigodudo, magricelo, de estilo debochado e seus companheiros nada convencionais, agora já faziam parte do show, contagiados, não tiveram escapatória.

Em seguida, a banda já emendou “Sally” do álbum “Gypsy Punk Underdog World Strike” (2005). A garota da letra, Sally, também fora conquistada pelo espírito cigano, mas através de um objeto deixado para trás pelos andarilhos. Então, assim como no Ibirapuera, na noite de sexta, “Cultural revolution Just begun” (revolução cultural acabou de começar)! É foda, interação, dialética, superação! Palco x platéia, platéia x palco! Individuo na platéia x individuo na platéia! Instrumentos x instrumentos! Todos os elementos combinados harmoniosamente em ação, reação, atingindo a superação dos padrões musicais, éticos, políticos e culturais! E era gente de todas as idades, tanto no palco quanto no chão, convivendo com respeito, sem certa estupidez que costuma ser recorrente nos shows de "punk". Pô, experiência que transcende a matéria, não pode ser apontada e, muito menos, entendida pontualmente, só entendemos o show se pensarmos todos os elementos envolvidos, pois o que fica no ar, o que nosso cérebro capta, é justamente isso, a freqüência (espírito) que uniu diferentes culturas naquela noite. A empolgação das rodas de pogo, das palmas, dos pés e chutes, vibração furiosa. Por isso, a plena compreensão nunca virá através da racionalidade, mas sim da captação, da sensação, do conflito harmonioso da sua existência com a música e todos os presentes, isso, caro leitor, só quem tava lá sabe o que é. Nesse ponto, uma resenha de cunho jornalístico torna-se inútil, demasiado racionalista. Devia escrever um poema, uma música ou simplesmente pegar esses elementos gráficos (palavras) e combiná-los de forma espontânea, só seguindo as sensações deixadas pelo enorme organismo que tomou conta do Tim Festival, dia 24. Assim, seria possível estender uma ponta daquilo tudo para essas páginas. Tal necessidade explica a não convencionalidade dessa resenha. Show atípico, resenha atípica, ora pois!

Música - Fúria – punhos cerrados – pés ao chão – pogo – gritos - protesto – pulos – alegria – interação – questionamentos – revolução – cores – festa – alteração da consciência – expansão dos horizontes - libertação - liberdade!

Isso foi o show! Ta bem, mais um pouco de amarras jornalísticas: Em sua apresentação, o grupo mesclou os dois últimos álbuns. A terceira música foi “Not a Crime”, baseados subiram, e manteve o pessoal no ritmo frenético do "gypsy punk" até cair aquele grave do dub, então tudo ficou mais lento, fumaça na mente e o ritmo penetrando, até que, BOOM! Explosão! A galera cai matando no palco e o público cai no pogo alucinante.

A performance no palco preserva o ar debochado dos integrantes, mas se mantém quase que impecável durante todo o tempo. Tudo muito bem ensaiado, quase um número circense que só ficou completo quando as duas backing vocals/dançarinas/instrumentistas (uma no prato e outra no tambor) subiram ao palco. Ambas chinesas e com uniformes de ginástica, baby look e shortinho(pra delírio da cuecada), do Santos FC (seguindo a linha das apresentações desse ano). Mas por que o Peixe?? Ta certo, o time é bi-mundial e bem conhecido lá fora, mas o que o Gogol Bordello tem a ver com isso? Pergunta que fica no ar. São elas que dão os gritos estridentes de “Never Young”, transmitindo como nenhuma palavra o que Eugene passou quando jovem, de embaixada em embaixada, acampamento em acampamento, cigano na vida, mão de obra barata, visto cheio de preconceitos pelo conservadorismo europeu e super-explorado no trabalho. Então, aconteceu a libertação através da música:

“I was sculpted to be overworked and silent
But since the early ageI broke out of the cage
And learned how to make marching drums
From a fish can”

"Fui esculpido para trabalhar além da conta em silêncio
Mas desde cedo eu quebrei a jaula
E aprendi como fazer tambores em marcha
Em uma lata de peixe"

Tambores em marcha, força! Essa história de vida, os gritos e os instrumentos em ritmo acelerado encontraram a platéia, que reagiu e rebateu com socos, chutes, pulos e gritos. A tal da interação.

Eugene correu de um lado para o outro, jogou vinho na galera, bebeu e cuspiu pra cima, um “show man” ligado no 220V. Acompanhando a empolgação, o violinista Sergey Ryabtsev, também mostrou que apesar de tiozinho, ta bem enxuto e correu, pulou, cantou, dançou e é claro detonou no violino.

Logo após a acelerada "Never Young", assim de sopetão, só tempo para poucos grunidos de Hutz, veio “Wonderlust King” – hit mais conhecido pelo grande público. Introdução feita com violão, voz e palmas da galera. Tudo sereno, até que, “But im a wonderlust king! I stay on the run! Let me out, let me be gone!” Libertação sentida no entoar de toda aquela sinfonia instrumental que foi lançada ao público após a introdução. A resposta: mais pulos, mais dança e gritos! Festa! Com direito a fã vestido de "Jack Sparrow" fugindo do roadie e dando um “mosh” na galera. E o melhor, mesmo sem querer, foi um pulo sincronizado com a música, interação, todos num só, música, músicos e platéia. Essa a galera cantou como nenhuma outra.

“Mishto” (Gypsy Underdog World Strike) veio logo em seguida, então todas as atenções se voltaram à parte instrumental. Ritmo mais lento do que o apresentado até então, do contrário ia ter gente enfartando. Tudo começa com violão e voz e vai subindo, entra o acordeon, mantém o ritmo cadenciado, então, um prato de condução mostra que a batera está por vir, toques na caixa são ouvidos e entram bateria, baixo e violino, sincronia perfeita. Essa é daquelas que o público sentiu lá dentro, pois mesmo quase toda instrumental e com letra em ucraniano, a platéia reagiu,lançou os braços ao ar, dançou um bocado, mas mais do que tudo, estabeleceu comunicação sem conhecer o idioma. Para acelerar, “60 revolutions”, alterando uma pegada parecida com o nosso forró e “punk rock”, foi prato cheio nas rodas de pogo. Na letra, alarmes são soados,czares derrubados e bares esvaziados – revolução, uma por segundo! Energia incrível!

Acabada a música, é o início de outra. Instrumental de “Starting Wearing Purple”, palmas marcando o ritmo. Essa era muito aguardada pelo grande público - trilha de “Uma Vida Iluminada", filme com Elijah Woods. Enquanto outros tocavam, Hutz entornava um belo vinho, direto do gargalo, é wearing purple/vestindo roxo no sentido "etílicomológico" de ser. E o vocal começa a cantoria: “Ela não gosta de mim, ela não gosta de mim, por que ela não gosta de mim?” – música do brasileiro Agepe. A galera foi ao delírio e ficou na expectativa, então Hutz manda: “Morena tropicana...oioioioi” de Alceu Valença. Aplausos! E chega a hora: “Start Wearing Purple!” – fãs delirantes e geral pulando, na maior alegria.

E chega o momento de pensar local, com “Think Locally, Fuck Globaly” - uma pegada mais puxada para o mambo com punk rock. É, o neoliberalismo ta aí, destruindo, massificando e coisificando diferentes culturas, tudo vira produto. Todos são submetidos às leis do mercado, escravos da "Era Moderna". Então, nada melhor do que unir-se a Hutz e gritar: Fuck Globaly! E foi isso que aconteceu, a casa veio abaixo com o já clássico. E, logo em seguida, para surpresa de alguns, rolou “Mala Vida” sucesso do “Mano Negra” (ex banda de Manu Chao), fechando a curta (cerca de uma hora), porém fenomenal, apresentação do Gogol Bordello aqui em São Paulo. E ainda, após agradecimentos, Eugene desceu pra falar com a galera e distribuir abraços. Festa!

Foi isso, algo demasiado espetacular para ficar preso ao jornalismo. Por esse motivo vemos resenhas porcas (como essa) a respeito do show, ninguém irá resenhar com precisão aquele imenso organismo que se formou naquela noite. Aquilo ficou lá, morreu no momento em que a “excelente” organização soltou a “sonzera” Vila Olimpia na Arena. Quem foi o imbecil que colocou essa puta show no meio daqueles DJs? Não sabiam que do Gogol iria nascer algo diferente de tudo que foi visto no festival? Não conheciam direito? Da próxima vez, um dia só de Gogol Bordello, ou talvez alguma bandinha de ska para aquecer os ânimos...fica a sugestão. Enfim, foi uma grande festa pela Liberdade.

Um comentário:

Pat disse...

deve ter sido pouco foda o show..
perdi.
enfim, cliquei nos anuncios pra te dar uns dinheirinhos haha
=)