sábado, 1 de novembro de 2008

As vendas sociais e a crise alimentar



“Recordem que, por nossa incapacidade de ver, os movimentos do prestidigitador se convertem em magia”

Hoje vivemos a era dos acordos de livre comércio entre países. Na qual, reuniões fechadas de dezenas decidem o futuro de milhões. Os chamados países em desenvolvimento são os que mais sofrem com as medidas adotadas nesses acordos. A maior conseqüência é a sua devastação econômica em certas áreas. Aqueles que tiram sua subsistência do setor agrícola são os que mais sofrem. O México, membro do NAFTA (Tratado Norte Americano de Livre Comércio), é um exemplo de como o livre-comércio pode ser prejudicial à alguns setores da sociedade.

A crise alimentar chegou ao país esse ano, quando entrou em vigor a total liberalização da agricultura mexicana, caíram todos os tributos em relação aos produtos desse setor. Com isso, as organizações camponesas se viram obrigadas a concorrer diretamente com produtos americanos e canadenses. O resultado não poderia ser mais óbvio. Os EUA, que cultivam 179 milhões de hectares com subsídios que chegam a 21 mil dólares para seu "fazendeiro", acabaram inundando as prateleiras mexicanas com seus produtos. A concorrência é desigual, o México cultiva 27 milhões de hectares, com subsídios que chegam a 700 dólares para o agricultor.

Não há como vencer quando seu concorrente é a maior potencia mundial e pratica “dumping” em relação aos produtos de seu país. Do lado americano uma série de embargos continuam limitando as importações de produtos agrícolas mexicanos, a desigualdade é gritante. O cenário não poderia ser pior, o país que já sofria com a desigualdade social agora afunda em uma crise, na qual aqueles que ocupam os setores menos favorecidos da sociedade pagam a conta. Conta essa que acaba encoberta pela mídia, pois se encontra demasiadamente atrelada aos interesses capitalistas emergentes dos países concorrentes e do próprio México.

Assim, os contratos que traçam o destino de milhões acabam restritos às decisões de poucos, beneficiados com essa “livre-concorrência” desleal. A sociedade atual acaba adotando uma forma unilateral de tomar decisões, na qual, a sociedade civil não tem voz. Os mais prejudicados protestam, ninguém lhes dá ouvidos. O restante da sociedade escolhe continuar cego e em um estado de letargia. Só cumprem o seu dever de produzir capital, consumir mercadorias e vender imagens, enquanto a miséria se alastra ao seu redor, mas não bate à sua porta.

O destino dos camponeses acaba sendo decidido por “mágicos” que usam um truque muito conhecido, porém, cuidadosamente encoberto. O truque de fomentar a “livre-concorrencia”, na realidade protetora dos interesses de grandes potências mundiais, em mercados considerados fracos e sub-explorados. O espetáculo é bem montado, os “ilusionistas” obtêm uma enorme margem de lucro e distraem as populações com o seu show, o patrocinador é o capitalismo transnacional, a conta todos sabem quem paga.
ilustração retirada de: www.sinmaiznohaypais.org

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